AGUÇAMENTO
TÉRCIO STHAL
Depois de abrir o lacre
Da garrafa de vinho tinto
Tinjo flores e espinhos
No ninho dos melodramas
E as chamas de um devir
Farto de vertigem acre.
SAPO ARREDIO
TÉRCIO STHAL
O sapo sapeava à beira do rio
E ouvia o piar das corujas roucas.
A noite era longa e estava frio,
Mas ele não via ninguém de toucas.
E não tinha sono o sapo arredio.
(DES) APONTAMENTOS
TÉRCIO STHAL
Só porque eu sou poeta
Há quem pense que eu deva saber
Distinguir e pingar acertadamente
Todos os jotas e todos os is.
Só porque eu sou poeta
Há quem pense que eu deva saber
Porque nem sempre os ventos vem
Com a mesma intensidade,
O mesmo sentido e a direção.
Só porque eu sou poeta
Há quem pense que eu deva saber
Porque as águas do rio se movimentam
Até desaguar no vasto mar.
Só porque eu sou poeta
Há quem pense que eu deva saber
Porque as telhas das casas
Quando expostas ao Sol a pino
Parecem até tremer.
Só porque eu sou poeta
Há quem pense que eu deva saber
Quantos pingos de chuva se esvaem
E quantos pingos caem no chão.
Só porque eu sou poeta
Há quem pense que eu deva saber
Sobre cousas naturais e espirituais,
Sobre mim e sobre todos os demais,
Mais do que qualquer outro ser humano.
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