domingo, 10 de novembro de 2024

SÓ PORQUE EU SOU POETA






















AGUÇAMENTO

TÉRCIO STHAL


Depois de abrir o lacre

Da garrafa de vinho tinto

Tinjo flores e espinhos

No ninho dos melodramas

E as chamas de um devir

Farto de vertigem acre.



SAPO ARREDIO

TÉRCIO STHAL


O sapo sapeava à beira do rio

E ouvia o piar das corujas roucas.

A noite era longa e estava frio,

Mas ele não via ninguém de toucas.

E não tinha sono o sapo arredio.



(DES) APONTAMENTOS

TÉRCIO STHAL


Só porque eu sou poeta

Há quem pense que eu deva saber

Distinguir e pingar acertadamente

Todos os jotas e todos os is.


Só porque eu sou poeta

Há quem pense que eu deva saber

Porque nem sempre os ventos vem

Com a mesma intensidade,

O mesmo sentido e a direção.


Só porque eu sou poeta

Há quem pense que eu deva saber

Porque as águas do rio se movimentam

Até desaguar no vasto mar.


Só porque eu sou poeta

Há quem pense que eu deva saber

Porque as telhas das casas

Quando expostas ao Sol a pino

Parecem até tremer.


Só porque eu sou poeta

Há quem pense que eu deva saber

Quantos pingos de chuva se esvaem

E quantos pingos caem no chão.


Só porque eu sou poeta

Há quem pense que eu deva saber

Sobre cousas naturais e espirituais,

Sobre mim e sobre todos os demais,

Mais do que qualquer outro ser humano.





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