sábado, 29 de dezembro de 2018

RI O PALHAÇO

QUE PERDE A CALÇA
NO PALCO,
MAS TREME O CANTOR QUE,
SEM QUERER,
DESAFINA.

(ESCRITORTERCIO)




















TRANSMUTAÇÃO
TÉRCIO STHAL

Num dia,
Semimorto na areia da praia.
No outro, em alto mar,
Em corajosa travessia.

Num dia,
Resignação,
Portas e janelas fechadas.
No outro, 
Cultivando e cultuando.

Num dia,
Mendigando nas esquinas
E dando com a cara no muro.
No outro,
Domando as feras,
Como quem sabe o que faz.

Num dia, 
Encarcerado sem previsão de soltura.
No outro,
No camarote ou no palco,
A dizer, livremente, qual é o tom.

Num dia, 
Ilustre desconhecido na bacia das almas.
No outro,
Dono do mundo e dos cavalos,
Dos cavaleiros e do sangue alheio.

Num dia, 
Estrada sem saída,
Sob a mira do inimigo.
No outro,
Fluidez de movimentos
E domínio de tempos e espaços.



EUREKA: HISTÓRIA E BOLOR
TÉRCIO STHAL

Mergulhado na História 
e no bolor dos livros antigos da Biblioteca Nacional, 
descubro que Deus não nasceu na Bahia, 
nem eu nasci nas Gerais. 

Descubro que 
"quem não chora, não mama," 
e que as tetas da nação insuficientes são
para prover o sustento da geral.

Descubro que 
"quem tem padrinho vivo não morre pagão," 
a não ser que o padrinho 
não esteja nem aí com o seu afiliado,
com as regras gerais do jogo da vida,
com o Papa, o Bispo, o Padre ou o Pastor, 
muito menos com sacristãos e coroinhas.

Descubro que
as uvas verdes nem sempre caem do pé, 
que as maduras nem sempre estão 
nos galhos mais baixos
e que não é de bom tom recolher as uvas
que caem do pé e se espalham pelo chão.

Descubro que 
o Pé Grande mora lá longe,
lá onde todo mundo congela o pé,
ou onde todos esquentam a cabeça, 
mas que Mão Grande tem 
em todo espaço, tempo e lugar.

Descubro que, 
ao longo da História,
sempre houve enfrentamentos,
derramamento de sangue e desamor.

Descubro que
a fé e a esperança não morrem, 
pois configuradas estão 
nos sonhos e nos ideais.

"Vade Mecum!"
"Quo Vadis?"

Já estou no Século Vinte e Um, ou não?
Lustrando botas e patas de cavalos,
ilustrando quadros com fotos 
e imagens de índios escalpelados, 
queimando bruxas como se responsáveis fossem
por todo o infortúnio da Humanidade.
Bodes expiatórios, a própria desumanidade.
Fogueiras sempre acesas, brasas vivas
e cinzas de casas mal construídas.

O Bem e o Mal, o mal e o bem,
bem ou mal estruturados ou reconhecidos.

Descubro que 
o enforcado, em plena Praça Púbica,
põe a língua pra todo mundo,
enquanto estouram Champanhes
nos compartimentos dos Palácios.

Certamente este não é
o melhor dos espetáculos,
pois não estarrece a mais ninguém.

Entrementes, 
o poeta escreve isto apenas
para cumprir o seu ignominioso ritual.
Não adverte, nem exagera.

Aqui e acolá, 
por força de Ordem Judicial, 
carcereiros soltam os prisioneiros.

Aos mártires restam as missas na Matriz.
Das feridas a expectativa de futura cicatriz.
Furiosamente protesta o Lobo da Estepe
que se transforma em algoz de si mesmo.

"Você tem fome de quê?
"Você tem sede de quê?"
Do que é que a gente precisa? 

Talvez muito mais do que a História
e do bolor dos livros antigos 
da Biblioteca Nacional!


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