domingo, 13 de abril de 2008

O DEFUNTO PERMANECE NO MEIO DO CAMINHO,

























ENTRE CADA SER VIVO, SEU VALOR, SUA AÇÃO,
ENTRE O FATO BRUTO, A VIDA EM DESALINHO,
A MORTE E A CARÊNCIA DE RECONSTRUÇÃO.

(TS - PARAFRASEANDO JEAN PAUL SARTRE)




TÉRCIO STHAL
O MENINO DA PIPA

Era uma vez um menino com a linha e a pipa,
O sonho, a esperança e o vislumbre de 
Estabelecer o contato entre a Terra e o Céu.
Deu linha na pipa e a pipa subiu, subiu, subiu...
Mas, a seguir sobreveio o pânico da vida real.
Num teatro de fogo e chama acesa, da esperança
Bela e alta, restou apenas e tão somente cinzas.

Dali por diante, a vida real virou uma viagem
De paraquedas que não abriram e que nunca
Souberam qual poderia ser o caminho da pipa
Que, caindo, caindo, caindo foi levando o menino
E todos os seus sonhos infantis.

Os sonhos e a esperança foram envenenados
E despedaçados pela imposição da incompreensão,
Da intolerância, da intransigência e por atos de 
Terrorismo.

Já não era possível pensar como antes... Não se
Podia contraditar. O ar já não era o mesmo, estava 
Contaminado por sutil e sinistro ritual de morte, em
Austera e fúnebre solenidade, com a permanência
De angústia gravada em papel precário. Num breve
Culto à saudade, funestos anúncios de cortes
Exponenciais em cada demonstrativo de pagamento
E nos extratos bancários.

O Menino da Pipa e a sua pipa foram esquecidos.
Nem sei se existem mais! Mas, "enquanto há vida, 
Há esperança".
"A esperança é a última que morre!"
"A esperança é um bom desjejum, mas um péssimo
Jantar!". "A vida é breve e não se pode viver só de
Esperança!". "Não se pode viver o tempo todo de
Olhos fechados correndo sobre penhascos!", ainda
Que seja para procurar pipas que caíram.

Mas o coração pode "ir mais longe e apertar com a
Mão as pérolas escorregadias dos sonhos para
Bordar, com elas, não apenas a esperança, mas
Também o cobertor para a alma em degelo."

E disse: "A esperança, última das deusas sagradas
Da Humanidade, precisa ressurgir dos sepulcros,"
A fim de tornar possível a construção de uma nova
Realidade, resgatando meninos que atinjam os céus
Com suas pipas, para acender novas chamas, da
Bela e alta esperança, Capazes de aquecerem bem
E muito mais do que um simples cobertor...

Existe, sim, um nexo no desconexo,
Uma finalidade escondida, talvez,
No próprio mundo da vacância
E da destinação absurda.



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