segunda-feira, 17 de julho de 2017

PELAS CORTINAS E JANELAS QUE SE ABREM


e pelas frestas que existem, mas desaconselho,
o que vejo todo dia me faz imaginar
que nada é tão comum quanto parece ser...

Que arranha-céus não arranham céus.
Que guarda-chuvas não guardam chuvas.
Que faca amolada nem sempre corta
o que é preciso cortar.

Que nem mesmo as melhores costureiras sabem
o que realmente precisam costurar.

Que nenhum automóvel se movimenta devidamente
sem um habilitado condutor.

Que nenhuma luz ilumina o quarto escuro
no mais profundo recôndito de cada ser,
que vive nas sombras, ou tenta se esconder.

(ESCRITORTERCIO)












BAILÃO DA SEXTA FEIRA 13
TÉRCIO STHAL

As fogueiras de Junho já estão acesas,
batatas assando e as paçocas nas mesas.

"O gato preto cruzou a estrada,
passou por debaixo da escada,"
e já está no meio do salão.

Já se faz presente o Boi Bumbá,
muita gente a dançar o Carimbó,
e os Marujos,
misturando-se com os Cirandeiros,
formam o maior "forrobodó".

O Boto Cor-de-Rosa,
com seu olho de peixe morto,
parece ter vindo
direto da festa na "Granja do Torto",
ou da festa no "Palácio do Jaburu",
depois de uma noite mal dormida com Iara,
a Mãe D'água, no rio de águas claras.

No palco,
homens e mulheres tocam tambores,
cantam Frevo e Maracatu,
e contam as Lendas da Mandioca,
da Vitória Régia e do Uirapuru.

O bailão segue animado,
mas se vê aqui e acolá algum gato pardo.

Carcará se esconde,
parece que não quer ser encontrado.

Olha o Ramãozinho, e o Saci-Pererê,
pulam as fogueiras
que nem gatos sobre brasas,
só não voam porque não tem asas.

Vejo, também, o Pé-de-Garra,
com sua alma presa no pé,
e o Lobisomem,
que se não é homem,
que bicho é?

Agora já se ouve Tambor,
Cururu, e Congada,
enquanto no centro do salão
parece acontecer uma Cavalhada.

Ao som do Batuque,
do Cateretê ou Catira,
vem o Curupira,
com seus pés invertidos,
não apenas pra confundir,
mas para ser divertido.

Agora se ouve Cana-Verde,
Jongo, Caxambu,
Fandango e Quadrilha,
e já se aproxima o Boitatá,
com seu fogo fátuo a queimar
quem quer destruir as florestas do país.

E assim, é a festa,
meu filho, minha filha,
todo mundo canta, dança,
e conta estórias,
no Bailão de Sexta 13,
onde se resgata a nossa memória.

Vejo, que também veio,
o Negrinho do Pastoreio,
que agora dança
ao som de Pau de Fitas,
de Chula, e de Chimarrita.

E agora,
por volta da Meia Noite,
não sei se por bem,
ou por mal,
chega a Procissão das Almas Penadas,
que costuma aparecer,
com as tochas acesas,
na última sexta feira de cada mês,
ou então,
talvez,
em ocasião muito especial.

E o Bailão da Sexta Feira 13,
segue madrugada adentro
até amanhecer,
ou até o momento em que o poeta declamar,
ou dizer,
o poema que indica o final:

- "Porque hoje é Sábado...
Amanhã é Domingo...
Por via das dúvidas,
livrai-nos,
meu Deus,
de todo mal."


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